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Biblioteca Estelaris - Estudos e Textos

Público·2 membros

Linha do tempo: Achados escritos históricos da Deusa Hekate

🕯️ Linha do Tempo dos Registros Escritos sobre Hekate

 

c. 700 a.C. – Primeira menção literária: Hesíodo, Teogonia (versos 411–452)

Origem: Beócia, Grécia Arcaica.

Este é o primeiro registro escrito conhecido sobre Hekate. Hesíodo descreve a deusa como filha dos Titãs Perses e Asteria, uma divindade que recebeu de Zeus honras acima das demais, com domínio sobre o céu, o mar e a terra. O trecho mostra que Hekate já era cultuada antes da organização olímpica do panteão, uma deusa independente e primitiva, de provável origem anatólica.

Fonte: Hesíodo, Teogonia 411–452; Burkert (1985).

Intervalo base: ponto zero da linha do tempo.

 

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c. 500 a.C. – Inscrições votivas e dedicatórias (Egina, Samotrácia, Delos, Caria)

 

Origem: regiões egeias e sudoeste da Anatólia.

As primeiras inscrições epigráficas mencionam Hekate sob os epítetos Enodia (“dos caminhos”) e Propylaia (“dos portais”). São oferendas domésticas e rituais ligados à proteção dos limiares.

Contexto: auge das Guerras Médicas e expansão cultural das pólis gregas.

Fonte: SEG 41.631; Petzl (1990).

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 200 anos.

 

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c. 450–420 a.C. – Menções literárias em Aristófanes e Eurípides

 

Origem: Atenas, período clássico.

Em As Rãs, Aristófanes cita as “oferendas a Hekate nas portas”, enquanto Eurípides a invoca em Helena e Ifigênia em Táuris como deusa dos feitiços e dos portais noturnos. A deusa aparece agora associada à magia e ao espaço liminar.

Fonte: Aristófanes, As Rãs 479; Eurípides, Helena 569.

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 250 anos.

 

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c. 320–300 a.C. – Inscrições cívicas de Lagína e Stratoniceia (Caria)

 

Origem: sudoeste da atual Turquia.

Documentos públicos atestam o culto oficial a “Hekate Soteira” (“a Salvadora”) e “Poliouchos” (“Protetora da Cidade”), com celebrações chamadas Hekatesia. Hekate assume um papel estatal, protetora da pólis e da soberania local.

Contexto: período helenístico inicial, após Alexandre Magno.

Fonte: Petzl, Die Inschriften von Lagina (1990).

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 380 anos. ***

 

c. 150–50 a.C. – Hinos Órficos

 

Origem: Trácia, Macedônia e Ásia Menor.

Coleções de hinos místicos descrevem Hekate como “tríplice”, “ctônica” e “Phōsphoros” (“portadora da luz”). Ela aparece como guardiã dos portais, senhora dos elementos e mediadora entre as potências divinas.

Contexto: apogeu do helenismo e sincretismo religioso.

Fonte: Hino Órfico a Hekate (Hino 1).

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 550 anos.

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c. 50 a.C.–100 d.C. – Papiros Gregos Mágicos (PGM)

 

Origem: Egito greco-romano (Tebas, Alexandria, Hermópolis).

Os papiros mágicos apresentam longas evocações e fórmulas rituais dirigidas a Hekate, identificada com Ereschigal, Selene e outras deusas. É o auge da deusa como figura central da magia e da teurgia popular.

Contexto: domínio romano, sincretismo egípcio e nascimento do cristianismo.

Fonte: PGM IV.2708–2784, PGM VII.756–794.

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 750 anos.

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c. 150–250 d.C. – Oráculos Caldeus

 

Origem: Síria helenizada ou Roma oriental.

Poemas filosófico-místicos descrevem Hekate como o “Fogo Inteligível” e o “Laço entre o Intelecto e o Cosmos”. É a primeira formulação metafísica da deusa, matriz do pensamento teúrgico.

Contexto: florescimento do neoplatonismo e do hermetismo.

Fonte: Oracula Chaldaica (fragmentos preservados por Proclo e Pselo).

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 900 anos.


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c. 300–450 d.C. – Iâmblico e Proclo: Teurgia neoplatônica

 

Origem: Alexandria, Síria e Atenas.

Nos tratados De Mysteriis (Iâmblico) e In Cratylum (Proclo), Hekate é o centro da hierarquia cósmica, mediadora entre o divino e o sensível, princípio do vínculo entre os mundos.

Contexto: transição do paganismo ao cristianismo; fechamento dos templos.

Fonte: Iâmblico, De Mysteriis II.6; Proclo, Theologia Platonica.

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 1.050 anos.

 

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c. 1050–1100 d.C. – Miguel Pselo, De Operatione Daemonum

 

Origem: Constantinopla, Império Bizantino.

Hekate é reinterpretada como um espírito intermediário, dentro da demonologia cristã. O texto preserva ecos dos Oráculos Caldeus e da teurgia antiga.

Contexto: cristandade ortodoxa, início das Cruzadas.

Fonte: Psellus, De Operatione Daemonum (séc. XI).

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 1.800 anos.

 

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c. 1480–1500 d.C. – Renascimento Florentino: Ficino e Pico della Mirandola

 

Origem: Florença e Roma.

Durante o Renascimento, os humanistas neoplatônicos redescobrem Hekate como princípio intermediário da alma cósmica, integrando-a ao simbolismo hermético.

Contexto: renascimento clássico, invenção da imprensa, Reforma.

Fonte: Marsilio Ficino, De Vita Coelitus Comparanda (1489); Pico della Mirandola, Conclusiones Cabalisticae (1486).

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 2.200 anos.

 

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Século XIX–XXI – Escavações arqueológicas e reconstrução moderna

 

Origem: Lagína e Estratoniceia (Turquia); reinterpretações ocidentais.

As escavações revelam templos, altares e inscrições dedicadas a Hekate Soteira. A partir do século XX, ocorre sua revalorização simbólica por correntes neopagãs e helenistas modernos.

Contexto: arqueologia científica, globalização e revival pagão.

Fontes: Petzl (1990); d’Este (2010); Grayle (2019).

Intervalo desde Hesíodo: cerca de 2.700 anos.

 

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Síntese evolutiva

 

Em aproximadamente 27 séculos, Hekate atravessou o caminho de uma deusa titânica pré-olímpica, para uma protetora cívica, divindade mística dos hinos órficos, força central da teurgia filosófica, e, finalmente, um símbolo do feminino sagrado e da luz nas trevas.

Nenhuma outra deusa grega possui uma tradição escrita tão longa e ininterrupta, um testemunho singular de continuidade e metamorfose espiritual.


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